quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Estávamos naquele quarto, sozinhos naquele apartamento, assistindo aquele filme que faltava na lista dele, mas que eu já tinha decorado as falas. Ele virou para mim e disse que ia viajar, mas que ainda nos veríamos antes que aquela viagem acontecesse. Depois de ver tantas partidas, eu sabia que eu jamais o veria depois daquele dia, mas mesmo assim eu fiquei até anoitecer.
Eu não gostava mais dele do que gostava daqueles peixinhos que a gente ganha quando criança. Ficamos tão felizes e tão eufóricos naquele momento, mas que morrem depois de uma semana pois esquecemos de alimentar. Mesmo assim, eu perdi uma parte de mim com aquelas palavras. Eu já havia me acostumado com as partidas, sim. A vida nos dá partidas aos baldes, se não partimos de um lugar pro outro, partiremos de nós mesmos, partiremos de promessas, liquidaremos tudo com novas coisas a serem mostradas, pensadas, vividas. Somos fantasmas de quem nós fomos, de quem foi com a gente. Não dá pra fugir disso. Eu ainda vou me entristecer o suficiente para uma vida, talvez duas. No entanto, mesmo sabendo das partidas, eu deixo que entrem, deixo que fiquem, no seu tempo, no meu.