terça-feira, 27 de janeiro de 2015

as vezes eu tenho vontade de me trancar em uma sala vazia e me jogar contra as paredes enlouquecidamente.
as vezes eu tenho vontade de ralar meus dedos no asfalto
as vezes eu sinto que preciso coçar minha pele até ela sangrar.
ontem eu acordei com vários hematomas
eu pensei que eu tivesse sonhado

eu não quero estar saudável eu não quero estar de pé no dia de amanhã
ninguém teve a decência de me conhecer realmente pra colocar um rosto no lugar do borrão que fizeram de mim. Eu tenho tanta coisa em mãos, eu tenho tão pouco, tão pouco vocês tem de mim. Já parou pra pensar em quantas vezes eu já vivi antes de estar aqui? aqui, nesse exato momento, olhando pra esse vazio. Eu não me importo, eu nem sequer sei me importar. Mas tenha a decência.
tenha a decência.
Isso já não é mais sobre o amor.
Encosto na minha carne
já não tenho tanto entusiasmo
como tinha no começo.
como os números
enterro detalhes
detalhes
detalhes
encontro pessoas pra passar o tempo
que não passa
pessoas me encontram
já não estou mais em lugar nenhum
escrevi sobre os amores que eu não obedeci
eu não obedecerei amores sobre os quais escrevi
Angelo, você consegue me ver?
olha pra mim mais uma vez
olha pra mim
ou até três
eu não sou o que você pensava
eu não vou ser o que eu pensava
mas nós ainda podemos estar em algum lugar
existindo juntos
você encosta na minha carne
e já não tem mais tanto entusiasmo
como tinha no começo
Entrei com as luzes apagadas.
Olhei nos espelhos de olhos fechados.
Falei com estranhos,
juntei algumas moedas
andei por algumas ruas.
Jurei ter visto rostos conhecidos
mas que já não me faziam recordar nomes.
contei as calorias do meu almoço
do meu lanche
pulei a janta
adormeci com medo.
sonho todas as noites que posso estar deprimida
mas continuo entrando nos lugares com as luzes apagadas
e olhando nos espelhos de olhos fechados
continuo falando com estranhos e juntando moedas
as calorias que não tenho mais
continuo correndo no mesmo lugar
beijando bocas que já nem estão mais lá
continuo olhando nos espelhos de olhos fechados
bem fechados.
continuo 
eu continuo
por que eu continuo?